Round 6/ Jogo da Lula: 6 socos no estômago dos brasileiros
Mudaram até o título original
A série de maior sucesso atual na Netflix está mexendo com os brios dos brasileiros. Por uma série de motivos, a trama originalmente sul-coreana toca em pontos sensíveis aos quais muitos poderiam questionar se realmente se trata de entretenimento ou se basicamente não estamos vendo um retrato da vida atual.
O Brasil,um grande consumidor de séries em streaming, respondeu bem ao sucesso em evidência, mas também levantou uma série de paradigmas e polêmicas sobre o desenrolar da trama e como de diversas maneira a vida real é retratada pela arte de maneira muito mais intimista do que a distância de uma tela.
1- Impossível não se identificar com a trama
Nos dias atuais, estamos sentindo na pele os efeitos da pandemia aliada à crise econômico-política que assola o país. A distopia brasileira tomou proporções tão reais que parece mesmo que estamos dentro de uma trama. Dívidas, desemprego, sopa de ossos para matar a fome. Idosos, crianças e mulheres evidenciam a disparidade.
Os personagens são extremamente humanos, no sentido amplo. Falham,insistem nos erros, demonstram amam aos outros,mas primeiro a si mesmo. A história trata de sobrevivência. Também está em jogo que todos em algum nível demonstram suas fraquezas. Vence aquele que souber aceitá-las.
2- Para todo malandro existe um mané
A musica de Bezerra da Silva traduz bem o desenvolvimento da trama e porque ela remete bem a lei de Darwin ao estilo brasileiro: só o mais esperto sobrevive. Por outro lado, para entrar no jogo, todos tem que estar convencidos de que podem se dar bem. Durante a trama, há uma série de situações em que percepções e improvisos definem o jogo.
3-A trilha sonora é de matar
Toda a música da trama parece ser muito importante para o desenvolvimento. Temos música coreana para as cenas que envolvem o ambiente do país, música clássica para a chamada nos alojamentos e jazz raiz para cenas que envolvem luxo e sofisticação. Há ainda momentos pontuais como música infantil envolvendo o jogo.
4- Qualquer escolha é ruim
Com certeza, o jogo não foi feito para agradar os jogadores. O tempo todo ocorre a ilusão da amizade e união de personagens mas no fundo eles não podem esquecer que somente um será o vencedor. Por outro lado, poderiam decidir não entrar no jogo. E aí voltariam para a vida real e seus problemas sem soluções.
5- Dinheiro é uma promessa divina
O que move a trama é o dinheiro, mas não se trata de cobiça. É a motivação que os leva até a promessa de recompensa. Todo esforço valerá a pena no final? O desespero é o gatilho emocional de todos e é nesse ponto que os personagens cativam os fãs da série.. Na vida real, o dinheiro também se apresenta como solução final de todos os problemas.
6- A disparidade entre ricos e pobres
Se fosse uma novela do Walcyr Carrasco,já esperaríamos que “os humilhados serão exaltados” o que costuma ser um clichê. Mas o que a série deixa bem claro é que tanto ricos quanto pobres buscam um objetivo e mesmo os que tem muito não parecem satisfeitos,enquanto os que não tem nada lutam pelo pouco que possuem: relações pessoais, teto, comida, liberdade. Dinheiro representa tudo isso que faz falta. O pobre sabe, mas o rico ambiciona uma plenitude que espera que o dinheiro cubra: a felicidade, os momentos que valham a pena ou simplesmente,entretenimento exclusivo.
Uma curiosidade: por questão política, a série mudou de nome no Brasil
O nome original da série é Squid Game, o que significa o Jogo da Lula. O significado do nome é apresentado logo na primeira cena da série, uma referência a um popular jogo infantil sul-coreano. Porém no Brasil, internautas apostam que a Netflix quis fugir do viés político, pela coincidência com o nome e a história recente do ex-presidente Lula.
Após ser acusado de uma série de crimes e ficar preso por 580 dias, o ex-presidente tem conseguido provar inocência na justiça e é atualmente um dos nomes em maior ascensão para as próximas eleições. A Netflix, no entanto, nega. A justificativa da empresa para escolher Round 6 foi ser o nome original que mais aproxima a série do público gamer.
Em Portugal, prevaleceu Squid Game , de forma que o nome se aproxima da mesma forma ao público-alvo. Ainda assim, como o momento atual no cenário político é entremeado de incertezas, a Netflix deixa bem claro que não quer se envolver nos problemas nacionais dos brasileiros.
Vale a pena assistir, mas dói
Há momentos em que questionamos se todo entretenimento vale a pena. A trama nos dá o viés de acreditar que é fatídico que os mais ricos se divertem com o sofrimento humano. dos mais pobres. É brutal, mas ainda assim, a trama faz sucesso em todas as classes. A empatia explica. Embora grotesco, nos identificamos com a trama e os jogadores.